À MINHA QUERIDA FILHINHA JANNEKEN


O texto abaixo é a reprodução de uma carta contida no livro O espelho dos mártires, um clássico anabatista publicado no século XVII. Nesta carta, Janneken Munstdorp escreve para a sua filha recém nascida, que dera à luz dentro da cadeia, enquanto aguardava a execução (Antuérpia1573):


Minha querida filhinha, eu a confio ao Deus Todo-Poderoso, grande e temível, o único sábio, para que a Ele a guarde e a faça crescer em seu temor, ou que a leve para casa em sua juventude; esse é o pedido de meu coração para o Senhor - você, que ainda é tão pequena, e que eu devo deixar aqui, neste mundo cruel, mau e perverso.


Visto, então, que o Senhor assim ordenou e predestinou, que eu deva deixá-la aqui, e você fique aqui desprovida de pai e mãe, eu a entregarei ao Senhor; faça Ele de você conforme Sua santa vontade. Ele a governará e será um Pai para você, de modo que nunca lhe falte nada aqui, se temer a Deus; pois Ele será o Pai dos órfãos e o Protetor das viúvas.


Portanto, meu cordeirinho, eu, que estou aprisionada e confinada aqui por amor ao Senhor, não posso ajudá-la de nenhuma outra forma; tive de deixar seu pai por causa do Senhor, e só pude tê-lo durante algum tempo. Deram-nos permissão de viver juntos apenas meio ano, depois disso, fomos presos, pois buscávamos a salvação de nossas almas. Eles o tiraram de mim, sem saber de minha condição, eu tive de permanecer encarcerada, e vê-lo ir antes de mim; foi um grande pesar para ele que eu tivesse de permanecer aqui na prisão. E agora que suportei o tempo, carreguei-a sob o meu coração com imensa tristeza durante nove meses e, com muitas dores, dei-a à luz na cadeia, eles a tiraram de mim. Aqui estou, esperando a morte a cada manhã, e logo seguirei seu querido pai. Eu, sua querida mãe, escrevo-lhe minha amada filha, algo como lembrança, para que assim você se recorde de seu querido pai e de sua querida mãe.


Agora, Janneken, meu doce cordeirinho, ainda tão pequena e jovem, deixo-lhe esta carta, junto com um anel de ouro que tinha comigo na prisão, e isso lhe deixo como despedida eterna e como testamento; que com isso você posso lembrar-se de mim, como também por esta carta. Leia-a, quando puder compreender, e guarde-a, enquanto viver, em memória de mim e de seu pai. Desse modo eu me despeço, minha querida Janneken, e beijo-a afetuosamente, meu doce cordeirinho, com um beijo eterno de paz. Siga a mim e a seu pai, não tenha vergonha de nos confessar perante o mundo, pois nós não tivemos vergonha de confessar nossa fé ao mundo e a essa geração adúltera.


Que isso seja sua glória, que não morremos por nenhum ato perverso, e esforce-se por fazer o mesmo, embora eles devam tentar matá-la, também. De forma alguma, cesse de amar a Deus sobre todas as coisas, pois ninguém pode impedi-la de temer a Deus. Se seguir aquilo que é bom, buscar a paz e nela permanecer, você receberá a coroa da vida eterna; essa coroa eu lhe desejo, e o Jesus Cristo crucificado, sangrando, despido, desprezado, rejeitado e assassinado, por seu noivo.

Para ler mais: http://www.homecomers.org/mirror/martyrs144.htm

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